Em razão da decadência provocada
pela habitual postura conservadora, intransigente e nada atual em relação a
temas como: o aborto, o uso da camisinha, o homossexualismo, a incapacidade de
arrebanhar jovens, a pedofilia e corrupção sacerdotal, aliada ainda a uma ampla
ofensiva das igrejas protestantes no Brasil e América latina, que ameaçam a
hegemonia católica neste continente, fizeram a atual desprestigiada igreja católicas,
levantar da sua comodidade corriqueira e lançar uma contraofensiva com sua
maior arma, o Papa Francisco, para reconquistar a fé e as divisas perdidas na América
do sul. Assim, a vinda ao Brasil do Sumo Pontífice e chefe da Igreja Católica
marca uma reestruturação da estratégia católica a nível mundial e uma nova fase
da luta secular das igrejas pela adesão e manutenção dos fiéis e por sua vez,
de suas generosas contribuições. Luta cujos resultados podem aparentemente não se
inclinar favoráveis aos católicos, visto que a ofensiva protestante é robusta, ousada
e dotada ainda de atributos inconciliáveis ao tradicionalismo católico.
Num país que já foi
predominantemente católico, onde por muito tempo a igreja governou tanto a vida
pública como a privada, hoje ela é forçada a dividir espaço e receitas com outras
denominações. Essas realidades evidenciadas através de pesquisas que demarcam o
espaço e a arrecadação como a do Censo 2010 onde 22,2% da população brasileira
são pertencentes às religiões evangélicas, embora ainda 64,6% sejam católicos,
demonstram a franca ascensão desses segmentos, em outro lado estão pesquisas
como a feita pela Folha de São Paulo junta a Receita Federal que aponta em
2011, uma arrecadação das Igrejas (católicas e protestantes) R$ 20,6 bilhões,
valor superior ao orçamento de 15 dos 24 ministérios da Esplanada ou a
arrecadação anual dos quais mais da metade foi para os protestantes. Por outro lado,
tais pesquisas caracterizam as razões do conflito como sendo em última estância
por recursos e poder, por outro tornam claros que a estratégia traçada há
algumas décadas pelas assembleias, através do afrouxamento doutrinário, da flexibilização
às mudanças sociais, da conquista do espaço político, da apropriação dos meios
de comunicação e descentralização de poder entre outras conquistas, tem-se
mostrado mais eficiente para o alcance e preservação de fiéis do que a
intolerante e irredutível política papal no tocante a temáticas que tratam do
uso de preservativos, da eutanásia, da anticoncepção hormonal de emergência, da
eliminação do celibato e do comunismo e liberalismo o que, consequentemente, a
marginaliza dos corações e consciências mais sensatas.
Embora as igrejas, católica
e protestante, tenham alguns pontos de defesa comum, como a luta permanente pela
família, traduzindo isso sempre no ataque frontal ao homossexualismo e por ora
estejam lutando na mesma trincheira contra satanás, as assembleias estão a um
passo na frente no Brasil, através da sua frente parlamentar evangélica ou como
muitos querem bancada evangélica, que composta por políticos dos mais variados
partidos e, portanto dos mais diversificados interesses, à frente chega a espantar
com a terceira posição em termos quantitativos no Congresso Nacional Brasileiro;
defendendo sempre o retrocesso social em questões como a legalização do aborto,
o casamento entre pessoas do mesmo sexo e contrariando a laicidade do Estado brasileiro
prevista na constituição, esse grupo que tem inúmeros processos, tais como: peculato,
improbidade administrativa, sonegação de impostos, formação de quadrilha e o
uso de fiéis como massa de manobra, eles são uma das razões para o crescimento
exponencial desta igreja nas últimas décadas. No outro extremo da penetração
política evangélica, está a imobilidade dos católicos de se desdobrarem neste
tema ou até mesmo a incapacidade de uma infiltração permanente, o que por vez, resulta
em campo fértil para as outras denominações. Ao lado da abertura política está à
simultânea e tão importante apropriação dos meios de comunicação; caracterizada
pela programação 24 horas na TV aberta com programas como o “Show da Fé” do
missionário RR Soares, e outros como o do pastor Silas Mala faia e ainda no rádio
com centenas de programas diários, as igrejas protestantes bombardeiam os telespectadores
com pedidos de ofertas e promessas de riquezas (teologia da prosperidade),
doações, patrocínios, pagamentos de dízimos e por fim, com a venda de livros. No
outro extremo e na razão inversamente proporcional, está a igreja católica à
frente da Rede Vida, com um conteúdo voltado para a doutrina social da igreja,
o catecismo social, a moral e a ética, ficando assim aquém do que move o telespectador
(sensacionalismo e dinheiro).
Tão importante quanto à introdução
da mídia e política está à capacidade de responder às mudanças de comportamento
mediante o ajustamento social da igreja; nesse sentido, temos a música gospel que
introduzida em 1970 atraiu muitos jovens e adolescentes para uma nova maneira
de adoração, um novo cântico e uma mudança de vida, numa clara evidência de que
a igreja sofreu uma transformação promovida de fora para dentro, entretanto,
pensada de dentro para fora. Desse modo, o que inicialmente era repulsivo e condenado
por parte dos moralistas cristãos, foi alojado aos poucos, adaptado e arranjado
para se transformar no que seria um mercado frenético de consumidores, com movimentações
em torno de dois bilhões anuais, conforme pesquisa de mercado e no trunfo do aliciamento
da mocidade. A igreja católica por sua vez, esboçou uma reação para conter
esses avanços, dessa maneira artistas como o padre Marcelo Rossi (com 50 mil cópias
vendidas), Fábio de Melo e outros, foram os expoentes dessa iniciativa, todavia
barrada na influência da música sacra não pôde atingir seus desejos profanos. Arrematando
a estratégia protestante, construíram o afrouxamento doutrinário para acomodar
novos membros; desse modo o conjunto de princípios que servem de base para o
sistema religioso foram trocados por costumes, usos, práticas, ritos, hábitos e
tradições, comprometendo a doutrina bíblica, a ética cristã e a moral
evangélica, todavia com efeitos superlativos no recrutamento de fieis para os
quais as igrejas voltam sua exclusiva atenção. Do outro lado, a Igreja Católica
sem alienar um milímetro de sua doutrina (o Credo,
o Pai Nosso,
os Dez Mandamentos e os sete sacramentos) é empurrada cada vez mais
para o seguinte dilema: permanecer na sua inabalável fé e com isso perder adeptos
ou crescer e perder sua essência, isto é, quem será mais importante à alma dos
fiéis ou o seu dízimo.
Portanto, em face da bem
elaborada ofensiva protestante, e da recente estratégia católica, que se encontra
num quase insuperável impasse cujas primeiras notas, mesmo que grosseiramente,
indicam para uns, que ela se manterá em sua inclinação regular, ou seja, em sua
impenetrável clausura e para outros deslumbre ares de mudanças profundas e de reformulação,
entretanto para confronto com a realidade a essa altura tem se apenas duas certezas:
a primeira é que o que foi fornecido, dito ou cometido não é suficiente pra um
julgamento adequado, a segunda é certeza que só o tempo responderá para qual
lado penderá a balança da igreja católica.
Isac Santos, acadêmico em administração UEMA/CESI