Em homenagem a todos os jornais e revistas
burguesas e vendidos de nossa cidade!
Votamos em quem? Levantamos qual bandeira?
Adotamos que ideologia político-partidária? São perguntas comumente realizadas
e que tem sido pobremente respondidas. Não há dúvidas de que algo errado tem
acontecido com as nossas emblemáticas fundamentações políticas, bem como é
visível a crise da retórica na seara política levando consigo o discurso
fundamentador.
Há alguns dias atrás Ferreira Gullar, um
notável maranhense, escreveu às páginas amarelas da revista Veja um texto onde
delineava a opinião de que os sistemas políticos e partidários vislumbram o seu
ocaso, visão que compartilho em paralaxe. A priori, pode-se esmerar essa ideia
quando entendemos a crise ideológica na política como a crise orgânica e
histórica instaurada em nossa sociedade nos tempos mais ermos de nossa
organização sócio-político-ideológica. É a conhecida crise
ético-moral-valorativa, uma crise de todo o parque humano, com a vênia de
Habermas, “ o projeto humano falhou!”.
De certo modo, é de assaz importância entender
que a construção do projeto humano é de responsabilidade de todos nós,
ressalvado o evidente exagero de Habermas ao aludir a falha de tal projeto, é
fato que este ainda está em construção, e essa envolve o debate acerca dos
valores e de todos os destinos possíveis da humanidade, sob prismas éticos e
paradigmáticos, percorrer esses passos é intimamente necessário para o futuro
da humanidade.
Quanto à crise dos sistemas políticos, esta é
apenas o reflexo da crise da sociedade hodierna, por que é simples o
entendimento de que os seres humanos vivem em sociedade, e viver em sociedade é
estar condenado à viver a política. No entanto de algum modo ou em algum momento
creditamos a alguns o poder de exercer o poder/direito de todos, para mim uma
falha sistêmica, uma incongruência lógica visto a evolução dos paradigmas
fundantes e do discurso formal que enseja ser positivo e que objetiva ter força
legiferante, ou seja anseia ser senhor.
Sem dúvida não estamos prontos para os
problemas surgidos pelo nível de progresso que nossa ciência e evolução
tecnológica tem exigido, o debate filosófico ( sempre mais importante que a
ciência – Bachelard) é um instrumento de auxílio a esse esclarecimento, mas as
ideologias instauradas no âmago de nossa sociedade, os valores corrompidos que
temos por lei, as estruturas de poder autótrofas que se justificam por sí e não
necessitam da justificação e da legitimação do povo , transformaram-se em
instrumentos de opressão e não de redenção como a velha democracia aludia.
Nesse sentido, a ilusão de mudança por meio do
voto, para mim uma brincadeira de mau gosto com o povo, tem que ser suprimida
do ideário das mentes dos homens médios, e só existe um caminho para tal, qual
seja a total desconstrução do modelo político vigente, onde um prefeito
facilita a vitória de licitações de uma determinada empresa em troca de favores
pessoais, onde um administrador convença os vereadores, saiba lá as ferramentas
que ele usou, para criar uma lei que lhe dê poderes à Luiz XV.
Por fim, pode parecer que é o fim das
manifestações, das revoltas, da insatisfação expressada pela sociedade, das
vaias, mas essas não tem objetivo, a revolta contra esse sistema é que é um fim
em si mesma, e essa é a minha visão em paralaxe( talvez seja um erro).
Armando Aguiar,
bacharel em direito e colunista do portal Cidade Diária