
Ressalte-se que a greve foi deflagrada depois de diversas tentativas infrutíferas de negociação com a UFMA através de numerosos ofícios mencionando várias reivindicações dos alunos. Agora, após 37 dias de greve, a administração superior da UFMA, além de não atender a pauta de reivindicações, impõe a desocupação dos campi pela via judicial.
Em nota oficial de 16 de maio, a administração superior da UFMA menciona uma série de providências tomadas para resolver a falta de água potável, a refeição mais cara que a paga em São Luís, a falta de materiais para aulas práticas em laboratório, a conexão de internet deficiente e a falta de professores com um traço em comum a todas elas: a projeção para o futuro (próximo?) da satisfação atrasadíssima de condições indispensáveis ao funcionamento das graduações. Este descompasso entre necessidades presentes e a admissão pela administração superior da perspectiva de sua satisfação no futuro é demonstração eloquente da forma descuidada com que se tem processado a expansão da UFMA no interior do Maranhão, ou melhor, do continente.
Bom senso, respeito, sensibilidade e tolerância vão perdendo espaço numa administração que brande como vitória a adoção de medidas discricionárias que veem no estudante um delinquente, e não aquele cuja formação crítica a serviço da sociedade está no cerne da missão de uma universidade. Medidas que lembram um passado ainda dolorido e recente, marcado pelo arbítrio, bem descrito nas palavras de Jaime Betts, ao afirmar que “Onde a palavra fracassa, somos capazes também das maiores barbaridades” e que “humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética.” Onde está a UFMA sempre aberta ao diálogo mencionada na nota oficial?
Na mesma frase que menciona estar a UFMA aberta ao diálogo ela afirma rejeitar “imposições políticas por parte do movimento estudantil ou de Associações de Docentes”. Ora, se diálogo pressupõe pelo menos dois lados falando, corre-se o risco de escutar o que não se gostaria de ouvir. Daí que diálogo sem se dispor a escutar o outro, atribuindo-lhe a pecha da imposição, deixa de ser diálogo e passa a ser monólogo.
Ao movimento estudantil e professores sindicalizados a nota atribuiu de maneira imprecisa e preconceituosa as chamadas “imposições políticas”, reforçada por uma digressão sobre a UFMA ser “uma instituição acadêmica que não se envolve em políticas partidárias e, por isso, não aceita intermediários nas suas negociações com a comunidade acadêmica”. Evoca-se aqui um universo paralelo tão puro que a política não macularia, negando o mundo das relações reais, as lutas por uma universidade pública de qualidade e por um mundo melhor. Que dizer das imposições políticas que limitam o acesso ao ensino superior público a pessoas de um determinado perfil cultural e social? Que defeito genético poderia ser atribuído às políticas partidárias de esquerda para considerá-las todas nocivas? E por acaso o grupo enviado pelo reitor para negociar por ele após os 37 dias de greve não foi um intermediário?
Trata-se, sem dúvida, de subestimar a inteligência do interlocutor. Infantilizam-se os estudantes, negando-lhes a capacidade de organização como segmento universitário autônomo, por serem massa de manobra na mão de docentes imersos na “nefasta política partidária”. Às associações de docentes, incapazes de contribuir para a construção da UFMA, se atribui a manipulação dos alunos-fantoches.
É preciso refletir ainda sobre o significado da estranha inversão embutida na atitude de valorizar o patrimônio (reintegre-se a posse dos campi) em detrimento das pessoas (expulsem-se os estudantes acampados nos campi). Dói ver uma universidade que deveria ser solo fértil para a multiplicidade de opiniões e pensamentos imersa pela atual administração num delírio de poder e na ilusão dum pensamento único e excludente como se tal situação fosse durar para sempre.
Partindo dessa reflexão, a Assembleia da APRUMA, realizada no dia 15 de maio de 2014, reiterou seu apoio e solidariedade aos estudantes grevistas de Imperatriz por uma UFMA democrática de fato e, conclama a comunidade à luta em defesa da UFMA de Qualidade, Transparente e Democrática.
FONTE: APRUMA