sexta-feira, 9 de agosto de 2013

POR ARMANDO AGUIAR: O ERRO DE PARALAXE DA POLÍTICA

Em homenagem a todos os jornais e revistas burguesas e vendidos de nossa cidade!

Votamos em quem? Levantamos qual bandeira? Adotamos que ideologia político-partidária? São perguntas comumente realizadas e que tem sido pobremente respondidas. Não há dúvidas de que algo errado tem acontecido com as nossas emblemáticas fundamentações políticas, bem como é visível a crise da retórica na seara política levando consigo o discurso fundamentador.

Há alguns dias atrás Ferreira Gullar, um notável maranhense, escreveu às páginas amarelas da revista Veja um texto onde delineava a opinião de que os sistemas políticos e partidários vislumbram o seu ocaso, visão que compartilho em paralaxe. A priori, pode-se esmerar essa ideia quando entendemos a crise ideológica na política como a crise orgânica e histórica instaurada em nossa sociedade nos tempos mais ermos de nossa organização sócio-político-ideológica. É a conhecida crise ético-moral-valorativa, uma crise de todo o parque humano, com a vênia de Habermas, “ o projeto humano falhou!”.

De certo modo, é de assaz importância entender que a construção do projeto humano é de responsabilidade de todos nós, ressalvado o evidente exagero de Habermas ao aludir a falha de tal projeto, é fato que este ainda está em construção, e essa envolve o debate acerca dos valores e de todos os destinos possíveis da humanidade, sob prismas éticos e paradigmáticos, percorrer esses passos é intimamente necessário para o futuro da humanidade.
Quanto à crise dos sistemas políticos, esta é apenas o reflexo da crise da sociedade hodierna, por que é simples o entendimento de que os seres humanos vivem em sociedade, e viver em sociedade é estar condenado à viver a política. No entanto de algum modo ou em algum momento creditamos a alguns o poder de exercer o poder/direito de todos, para mim uma falha sistêmica, uma incongruência lógica visto a evolução dos paradigmas fundantes e do discurso formal que enseja ser positivo e que objetiva ter força legiferante, ou seja anseia ser senhor.

Sem dúvida não estamos prontos para os problemas surgidos pelo nível de progresso que nossa ciência e evolução tecnológica tem exigido, o debate filosófico ( sempre mais importante que a ciência – Bachelard) é um instrumento de auxílio a esse esclarecimento, mas as ideologias instauradas no âmago de nossa sociedade, os valores corrompidos que temos por lei, as estruturas de poder autótrofas que se justificam por sí e não necessitam da justificação e da legitimação do povo , transformaram-se em instrumentos de opressão e não de redenção como a velha democracia aludia.

Nesse sentido, a ilusão de mudança por meio do voto, para mim uma brincadeira de mau gosto com o povo, tem que ser suprimida do ideário das mentes dos homens médios, e só existe um caminho para tal, qual seja a total desconstrução do modelo político vigente, onde um prefeito facilita a vitória de licitações de uma determinada empresa em troca de favores pessoais, onde um administrador convença os vereadores, saiba lá as ferramentas que ele usou, para criar uma lei que lhe dê poderes à Luiz XV.

Por fim, pode parecer que é o fim das manifestações, das revoltas, da insatisfação expressada pela sociedade, das vaias, mas essas não tem objetivo, a revolta contra esse sistema é que é um fim em si mesma, e essa é a minha visão em paralaxe( talvez seja um erro).

Armando Aguiar, bacharel em direito e colunista do portal Cidade Diária

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