segunda-feira, 3 de junho de 2013

SEM MUITAS ESCOLHAS

Nasci numa família de trabalhadores como muitos de meus colegas de trabalho. Devido às dificuldades que meu pai tinha para nos criar, nós, os homens da família iam com ele servir de ajudante em pequenas construções pela cidade logo na juventude, não vemos isso como uma coisa errada, sabia da importância de ajudá-lo a pôr comida em casa, apesar disso sempre tivemos como prioridade os estudos, ele sabia que a vida de pedreiro é dura e pesada.

As oportunidades nessa vida não são muitas, apesar de dizerem que estudando aparecerão mais saídas que não exercer o ofício de peão que nosso pai nos ensinou, não foi bem assim.

À medida que o tempo passa, e estamos na escola cada dia percebemos que temos que escolher ou estudar, ou tentar com muito sacrifício conseguir realizar o trabalho na obra e ir para a escola à noite, depois de um dia escaldante e cansativo ao carregar sacos de cimentos, mexer massa, levar alvenaria, etc aos pés do pedreiro.

Ficou claro pra mim depois de tanto ouvir promessas de que temos futuro e, ao mesmo tempo o presente nos coloca como parte de uma sociedade – a que produz -, que serve por um período para atender os interesses de outra, os patrões. Facilmente, nos descartando quando não cumprimos mais a tarefa que interesse a eles.

Em tempos onde não falta obra para vender o suor do meu corpo e nossa força de trabalho, o pouco que recebemos por isso dá hoje para comprarmos algumas coisas para nossa família: fogão, geladeira, televisão, computador, celulares; claro, a prioridade principal ainda é a reforma ou construção de nosso “barraco” para sair do aluguel. Mas sabemos que esses tempos de muito emprego é raridade e não dura pra sempre, quase sempre até o momento de entrega da obra e se continuar tendo outras obras na cidade, caso contrário, a única saída é ficar vivendo de bicos ou ir para outras cidades aventurar trabalho.


Dizer tudo isso para um peão é afirmar nossa força para continuar lutando por uma vida melhor para nossos filhos juntamente com meus irmãos de obra. Essa sociedade pode até não nos dar muitas escolhas, mais uma delas temos que buscarmos nós mesmos se quisermos que realmente nossas vidas mudem, e mudem para melhor.

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